sábado, 18 de junho de 2011

Do Sincretismo a reafricanização.









Do Sincretismo a reafricanização, Nada será como antes.
Os navios negreiros que chegaram entre os séculos XVI e XIX traziam mais do que africanos para trabalhar como escravos no Brasil. Em seus porões, viajava também uma religião estranha aos portugueses. Mas no novo mundo não podiam realizar seus cultos e muito menos reverenciar suas divindades Orixás/Vodun, divindades essas chamadas de coisa do demônio e feitiçaria pelos Colonizadores, surge o sincretismo que nada mais é que uma fusão de concepções religiosas diferentes ou a influência exercida por uma religião nas práticas de uma outra, então à necessidade da utilização de imagens católicas em seus altares para encobrir suas Divindades, fazendo pensar que estavam cultuando as imagens católicas, mas por de baixo havia os ebos “comida de Orixá ou oferenda” e assentamentos, com isso a associação das imagens católicas com os Deuses Orixás, santa bárbara com Oya, e assim por diante. Seja por necessidade ou sobrevivência os cultos foram mantidos. Hoje ate mesmo no berço da Religião de Matriz Africana no Brasil sito Salvador Bahia se mantém e inclusive existem Igrejas católicas realizando missas afros com toques de tambores e algumas saudações, entoados em Yoruba. No Rio Grande do Sul a Religião de Matriz Africana chamada de Batuque ou Nação também se manteve durante muito tempo com o sincretismo, era normal ver nos Pejis dos Ilês, imagens católicas e ao final das obrigações de 4patas aos Orixás, era realizado o passeio ao mercado assim como realizado em algumas regiões da África, mas aqui também visitavam uma igreja católica que o santo regente tinha a associação com o orixá do Ilê, um Ilê de Ogum realizava o passeio em uma Igreja de São Jorge ou um Ilê de Oya/Iansã realizava o passeio em Igrejas de Santa Barbara, hoje mantém o passeio ao mercado mas a ida a igreja católica já não é feita por muito Ilês , os que ainda realizam o passeio também em igreja católica preferem ir na Igreja Nossa Sra. do Rosário localizada no centro de Porto Alegre capital do estado, porque lá antes de existir essa Igreja, na época da escravidão existia uma igreja somente para negros pois neste período os negros escravos não podiam freqüentar a mesma igreja de brancos. As imagens católicas nos Ilês também estão sendo abolidas pouco a pouco são raros os iles que tem em seus Pejis imagens católicas. Os batuqueiros que matem imagens católicas em seus pejis se defendem dizendo que mantém justamente para que não seja esquecido tudo que se passou e toda a luta para manter a religião. A quaresma, “Olorogum” era respeita ate algum tempo atrás desde a escravidão, em nenhum ilê era realizado festas aos Orixás e rituais de sacrifício neste período, o início do ano litúrgico para o povo do santo era no sábado de aleluia, hoje ate mesmo pela necessidade das pessoas crentes na fé dos Orixás quase que nenhum ilê “fecha” neste período muitos mantém suas portas abertas mas não realizam xires já em outros Iles já realizam xires e sacrifício aos Orixás, a única coisa que todos respeitam é o período de carnaval.

Hoje existem um repudio ao sincretismo aqui no Rs, muitos condenam quem mantém imagens católicas em seus Pejis ou respeitam o período da quaresma, dizendo não ter nada haver com a nossa religião e que a escravidão já passou e não se tem a necessidade de manter qualquer forma de sincretismo,

“Este anti-sincretismo não deve ser visto como ausência de sincretismo, mas como uma atitude valorativa de rejeição ao sincretismo, já que processos de hibridez e misturas acontecem em todas as culturas, entretanto um dentre os tópicos que as diferenciam é valoração dada a esta mistura. Há sociedades que ideologicamente rejeitam ou têm horror à mistura, enquanto outras a exaltam. “Ser anti-sincrético seria desvalorizar, esconder, negar os sincretismos ocorridos, pois de fato não se é possível evitar o sincretismo de uma ou outra maneira” (MARIZ, 2005: 10).”


Mas o interessante é que todos são batizados na igreja católica e alguns se casam também nessas mesmas Igrejas, um mesmo individuo que condena imagens católicas no Peji é capaz de realizar um ebo ou xire ao Orixá Yemanja porque é dia de Nossa senhora dos Navegantes ou comemorar o dia de Oxum no dia de nossa senhora da conceição.


“Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio... Uma só, pra mim é pouca talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardérque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. (...) Olhe: tem uma preta, Maria Leôncia, longe daqui não mora, as rezas dela afamam muita virtude de poder. Pois a ela pago, todo mês – encomenda de rezar por mim um terço, todo santo dia, e nos domingos, um rosário (ROSA, 1986: 8-9).”

Enfim aqui no sul a um clima de reafricanização, muitos ilês estão em mudança em sua estrutura adaptando algumas coisas do candomblé, talvez numa intenção de reafricanizar acabem adaptando “coisas” do candomblé. Já se vê igbas “assentamentos” a amostra nos pejis assim como é no Candomblé, sendo que por tradição do Batuque os igbas “assentamentos” ficavam fora das vistas, geralmente em prateleiras cobertas por cortina, as comidas de religião inclusive as sacralizadas “ quatro pés e aves” estão sendo apresentadas para servir em cima de mesas ou em cubas de Buffet , o  arrisum esta tomando um conceito totalmente de candomblé, pela falta do conhecimento dos rituais fúnebres do batuque. Onde ontem tudo era fundamento hoje há muitas adaptações. Isso demonstra uma certa confusão em abolir o sincretismo onde algumas coisas são repudiadas e outras não , o certo é que o batuque passa por uma transformação , ou as pessoas crentes na fé do orixá, estão passando. Creio que o Orixá não se incomode com o sincretismo ate porque já estão adaptados a esta situação espero que estas transformação não afete os fundamentos da Religião, a fé já não é mesma pois os valores de ontem já não são os de hoje.
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Texto de Pai Léo de Oxalá
Kwe Djedje Nagô – Ilê Oxalá Segbo

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terça-feira, 7 de junho de 2011