sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O limite da ostentação


Existe um limite muito tênue que nenhum religioso deve passar.

Às vezes na vontade de querer dar o melhor aos nossos Orixás, passamos do limite entre querer dar o melhor ao nosso Orixá em sinal de agradecimento e a Ostentação.

Difícil saber esse limite quando temos êxito em nossas vidas, e naturalmente queremos agradar aqueles que são responsáveis pelo nosso êxito e dos que estão conosco na Fé dos Orixás, ate porque é um limite muito tênue, mas temos que nos lembrar que Orixá e obrigação de Orixá não é ostentação. Por mais que se tenha condições financeiras temos que nos ater a esse limite, senão vira pura ostentação ou “mega” evento e isso não cabe na Fé dos Orixás.

Temos que lembra neste momento de onde viemos, quem não sabe de onde veio ou não se lembra, nunca saberá onde chegar. Êxito como religioso não tem nada haver com riqueza, mas sim com a força do axé e a resposta dele, ainda me lembro e ainda existem muitos ile simples e humildes que detem um forte axé, não é ostentendo riqueza que seremos reconhecidos entre os nossos, mas sim pela força do axé.


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Por Pai Léo de Oxalá

sábado, 15 de agosto de 2009

Não é difícil encantar-se com o candomblé.



O Titulo desse texto também poderia ser, Não é difícil encantar-se com o Batuque.

Esse texto é gentilmente cedido pela amiga Carol, mesmo sendo de candomblé é um texto muito inteligente e cabe bem no cotidiano da Religião dos Orixás “batuque”, realizada aqui no Sul, pois fala de uma realidade que acontece em todos os Ilês e deixo aqui para deleite dos irmãos de Fé.

Não é difícil encantar-se com o candomblé. Por Carolina Cunha
Ainda mais se você for a uma festa de Orixá, é um apelo a todos os sentidos, as comidas, a beleza visual dos Orixás, as músicas e som dos atabaques, a alegria, tudo é um deleite dos sentidos.
As pessoas buscam sua felicidade na vida presente, não há um adiamento para a próxima vida, ou para quando você for para o céu, como muitas religiões pregam. Só esses elementos já são um convite, ainda mais vivendo na sociedade em que vivemos que tolhe o ser humano, condena o prazer que os sentidos nos oferecem e ainda adia, para outra época, a tão sonhada felicidade.
O problema é que muita gente entra no candomblé pensando que tudo são flores e esquecem que como tudo que é humano, a religião é composta de seres humanos e imperfeições são encontradas em todos os lugares. Os espinhos começam a aparecer.
O indivíduo quer saber, conhecer, devassar os fundamentos e muitas vezes certos conhecimentos só chegam com o tempo, ou só serão revelados quando o zelador julga que estamos preparados para tal.
A pessoa acha que porque é iniciada, certas coisas, coisas ruins, não vão lhe acontecer, ledo engano. “Porque sou feita de Orixá, minha vida pregressa não vai mais me afetar e as coisas que eu fiz não vão voltar”. Lei do retorno existe, funciona e não deixa de exercer seus efeitos porque você foi iniciado.
O planeta que vivemos não é perfeito e como cada um faz o que é bom pra si, nem sempre o que é bom pra fulano é bom pra ciclano, e aí chegam os problemas. Falta dinheiro, falta amor, conflitos em família e chega então a desilusão, a perda da fé. Aí que começam realmente os problemas, porque a criatura sai desorientada pelo mundo achando que ebó resolve tudo, que “Pombagira vai solucionar todos os problemas”, que “num-sei-quem tá fazendo feitiço para mim”, que “eu tenho que me defender”, e haja ebó, haja oferenda.
Já li muitos comentários, nesta casa, que nos alertam da necessidade de uma reforma íntima para que nossos pedidos sejam aceitos e que a ajuda chegue até nós. Os pedidos são feitos e a pessoa acha que só porque pediu vai receber, me parece mais Gregório de Matos que pecava porque acreditava que Deus tinha obrigação de lhe perdoar.E como a Igreja alimentava,pois era só confessar,rezar o que padre mandava e “Estás livre do pecado!” era um ciclo sem fim…É só uma forma de explicar que ninguém no universo tem obrigação de nos ajudar porque pedimos ou queremos ajuda. Na nossa religião não existe pecado!
É preciso bom senso acima de tudo, e o que vejo é que falta bom senso em boa parte das pessoas, porque não há análise crítica das situações, é mais fácil seguir o que os outros pedem do que sentar, e realmente gastar o tutano pensando sobre os assuntos que nos afligem. No por quê de certos acontecimentos, no que eu posso aprender com isso, onde estou errando, qual seria o objetivo desse acontecimento em minha vida, o que a espiritualidade quer me mostrar?
Agradar aos Deuses não vai nos trazer experiência de vida, vai nos fazer viver melhor nossa vida, creio que ajuda a pessoa a ver as coisas com outros olhos, pois abre-se um canal de comunicação entre você e seu Deus interior e seus Orixás, as oferendas são uma forma de dizer: “Meu pai, minha mãe, estou aqui, aberto às suas mensagens, me mostre o caminho”.
Mas se você não estiver aberto para receber a mensagem, você pode fazer o maior ebó do mundo, de nada vai adiantar. É preciso ter olhos para ver certas coisas, e perceber a mão de alguém te guiando por um caminho melhor.
Desentendimento com zelador é algo que não falta, “ele não quer me ensinar”, “ele não quer me dizer”, “ele fez errado”. Eu sei que existem pessoas que vivem de enganar as pessoas na sua fé nos Orixás, mas como é que você vai se entregar nas mãos de qualquer um?Fazer santo é que nem casar,é coisa séria, porque a pressa de fazer? Namorar é tão bom, noivar também, tudo tem sua fase e as etapas não podem ser queimadas como vem acontecendo na vida real. Para realizar sua união com uma casa de axé as coisas não podem ser como vêm acontecendo. É preciso o envolvimento inicial, identificação com a casa, ver como as coisas funcionam, observar como os filhos mais velhos se comportam, como o pai-de-santo age,será que você se adequaria àquela realidade? Será que conseguiria ter o comportamento que uma filha que ele gosta, tem?
Tem zelador que faz questão de respeito à hierarquia, lugar de Yaô é no chão, comendo de mão e cabeça baixa. E você, se entra num lugar desses vai ter que agüentar isso por sete anos, se mantiver as obrigações em dia. (Não vejo mal algum nesse estilo de administrar,mas tem gente que se sente humilhado) Então muitos não querem agüentar ou não aguentam, e mudam de casa como quem troca de roupa.
Mudando de assunto, os africanos sempre tiveram uma relação muito forte com a natureza. A religião africana (ou de origem africana) certamente reflete isso e somente quando nos baseamos no equilíbrio e no respeito ao tempo e a individualidade de cada um, observaremos casas com iniciados satisfeitos, zeladores estimulados e Orixás em festa.
E essas casas existem. Pois se existem lugares e pessoas que seguem o caminho dentro da casa de axé e da religião normalmente, sem pressão, sem inimizades, sem fofocas como deveria ser com todos, concluo que deve ser nessas casas que o respeito e o equilíbrio fizeram morada. Esses lugares são os exemplos que nos fazem seguir em frente e acreditar que é possível reformular sem perder hierarquia, sem perder o respeito dos iniciados, sem perder força, sem perder filhos.
Mas como é nossa cultura (cultura do brasileiro) falar do que não está bom, criticar, reclamar, geralmente os bons exemplos se mantêm no anonimato. Resta-nos garimpar, buscar esses casos de sucesso para que sirvam de pão de cada dia para nossa alma sedenta de felicidade,de júbilo e axé.
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Texto de: Carolina Cunha

DIREITO AUTORAL


A maioria das montagens e banner desse blog, são manipuladas por mim, enfim feitas por mim, eu trabalho com PhotoShop e Corel, sendo assim queria dizer que os direitos são meus e sempre que as pessoas me pedem para fazer algum tipo de trabalho de imagem, estou sempre a disposição, ainda mais se for algo que envolva religião e na maioria das vezes faço de graça, mas não irei tolerar o que tem acontecido, esta imagem deste post, esta rolando na Internet com o nome de um site ou blog, sendo que o individuo apagou os meus diretos da imagem e colocou o nome do blog dele, essas mãos que aparecem na imagem são de minha esposa e a guia pertence a mim, apenas o texto não é meu pois o texto é de domínio publico pois esta na Declaração Universal dos direitos Humanos. Eu sempre que pego algo de outro site peço e procuro sempre respeitar os direitos dos outros.Não proíbo ninguém de usar as minhas imagens, mas com os devidos créditos. Uma instituição de respeito jamais lograria os direitos dos outros.
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Por Pai Léo de Oxalá

sexta-feira, 3 de julho de 2009

QUEM TEM MEDO DE FEITIÇO?



Toda cultura engendra eventos, gestos, fenômenos e hábitos considerados estranhos pelas demais. Assim, o colonizador português nunca pôde compreender porque, entre os índios brasileiros, a mulher ia trabalhar enquanto o homem ficava na oca, cuidando do recém-nascido. Da mesma forma, o branco não pôde compreender porque os negros escravos ofereciam alimentos às suas divindades. Já estava muito longe a lembrança de que os antigos judeus ofereciam bois, carneiros, pombas, rolas, pães e azeite a seu deus. De igual sorte, a cultura católica, até hoje, conserva o hábito de oferecer pão e vinho à sua divindade maior, acreditando que tais substâncias se tornam corpo e sangue do Filho Único de Deus. E tudo isso acontece com um simples balbuciar de uma frase por parte do sacerdote. Ocorre, no entanto, que muitos católicos advogam para si a exclusividade de tal capacidade. E qualquer outra cultura em que se acredite também na possibilidade de realizações semelhantes é tida na condição de arte do Demônio e seus sacerdotes considerados feiticeiros. Ou na melhor das hipóteses: atos de selvageria, coisas de ignorantes, gente atrasada.Supersticioso até a alma, o português colonizador trouxe consigo o pavor deixado pelas fogueiras da Santa Inquisição, para quem até não trocar o óleo da candeia na sexta-feira era indício de satanismo. Mulheres foram queimadas vivas por exercerem o ofício de feiticeira: viravam rato, morcego, transformavam pessoas em bichos, voavam montadas em vassoura, tinham intimidades sexuais com o Demônio, enfim, faziam feitiço.Ao ver as práticas tidas como exóticas, tão comuns ao povo negro, nada mais óbvio para os preconceituosos do que considerar tais hábitos como esquisitos, estranhos e até mesmo demoníacos, satânicos. Enfim, malefícios de feiticeiro, isto é, feitiço. Afinal, as pessoas preconceituosas consideram-se exclusividade no plano do Criador. E a cultura de origem negra, ainda hoje, sofre as conseqüências de tal interpretação. Assim, uma oferenda qualquer, depositada em logradouros do tipo pedra do rio, beira do mar, mata, pedreira, encruzilhada, tudo isso provoca arrepios de assombro e terror. Na verdade, não são os objetos que provocam tal fenômeno, mas é o preconceito que propicia uma interpretação promotora de tal estado psicológico.O arraigamento de tal aversão vai tão longe que é comum até mesmo pessoas, declaradamente atéias, manifestarem pavor diante de situações próprias e particulares da cultura negra. Exemplos disso: pemba preta (agenciadora da morte e de toda espécie de malefício); ebó depositado numa encruzilhada (sinal do pacto com as forças demoníacas); cânticos religiosos ou até mesmo folclóricos (invocação ao Diabo); adereços ritualísticos (sinal de pacto com Satanás). E por aí segue uma série de absurdos, típicos dos que têm o horizonte colado ao nariz. Mas esta também foi a arma ideológica para manter os negros presos com outras correntes, mais terríveis ainda: “Você não é gente: é cria do Demônio, é pior que bicho. Por isso você é meu escravo e eu posso fazer de você o que eu bem quiser. Sua única salvação possível é abdicar de suas crenças e crer no que eu creio.”

Vale ressaltar também que a prática cultural das crenças dominantes passou por uma assepsia. Assim, não se vê o cadáver do Filho Único sacrificado, mas o pão em que o corpo dele se transformou. Não se bebe o sangue vertido do corpo matado, mas o vinho em que o sangue se transformou. E esta assepsia no conjunto simbólico permite que cena seja compreendida como civilizada, agradável, sutil e verdadeira. Na cultura do terreiro, porém, o simbolismo é outro. Os objetos passam por uma outra concepção que não é compreendida nem alcançada pelos praticantes de outros costumes. Isso possibilita, então, uma inviesada interpretação das práticas dos terreiros, por parte dos preconceituosos, que tomam tudo como feitiço, isto é, o malefício do feiticeiro.A prática do mal é inerente à natureza humana em qualquer cultura. E a maioria dos males é praticada fora do terreno religioso. Exemplo disso é o engendramento de práticas políticas, econômicas e educacionais que possibilitam a infância desamparada, a velhice abandonada, a falta de assistência à saúde, a educação ultrapassada, a corrupção, a negação dos direitos dos trabalhadores, a perseguição às minorias, a devastação das florestas, a poluição de mares e rios, a exterminação das espécies. Mas aí, o ebó é outro. E por isso mesmo, muita gente boa não se arrepia, não tem temor, nem fica apavorada porque não pode ver o verdadeiro demônio que, por trás de tudo isso, faz um feitiço escabroso.
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Prof. Ruy do Carmo Póvoras

ITAN: A JACA MOLE


Oxalá amanheceu com vontade de viajar. Olhe que isso é uma raridade acontecer. É tão raro, que os outros orixá atenderam, de imediato, ao chamado dele para participarem. Saíram de madrugadinha. Oxalá é assim: só começa as coisas antes do raiar do dia. E lá se foram, em fila indiana. Todo mundo andando sem pressa, pois Oxalá é lento, vagaroso e só anda em último lugar.

Iansã, acostumada com a agonia de sua tempestade, foi ficando impaciente. Olhava para um canto, olhava para outro, mirava o horizonte sem fim bem lá longe. E foi ficando cada vez mais agoniada. Começou a pensar consigo mesma:

−Ah, se eu estivesse sozinha... Logo, logo eu estava lá.

Se pelo menos Xangô, seu parceiro de agonia, resolvesse lhe acompanhar... Mas que nada: Xangô hoje estava decidido fazer companhia ao mais-velho...

A agonia aumentou tanto, que ela não suportou mais andar no passo do cágado. Aí, ela rodopiou e seguiu em frente sozinha. Lá, bem adiante, parou. Ficou embaixo de uma jaqueira, enquanto observava o grupo que se arrastava lentamente, por causa de Oxalá. A essas alturas, ela já estava pensando no que ia fazer depois que voltasse da viagem. Assim, ela navegou nos pensamentos, fazendo mil projetos. E a ventania corria pelo mato, derrubando folhas verdes e maduras.

Quando ela estava assim, bem de seu, uma jaca-mole, bem madura, despencou bem em cima de sua cabeça. Ela ficou banhada de visgo e melaço de jaca, da cabeça aos pés. Tomou um susto enorme, deu um grito e ficou sem saber o que fazer. Aí, ela se sentiu profundamente desamparada e resolveu voltar ao encontro do grupo.

Todo mundo notou a melação, mas ninguém disse nada. E ai de quem perguntasse qualquer coisa... De cabeça baixa, ela passou por Oxalá e tomou o último lugar na fila, atrás dele. Iansã apenas ouviu a última frase de uma conversa, que já estava terminando, entre Oxalá e Omolu, os mais velhos entre os mais-velhos:

− Pois é... Como o senhor bem sabe, esse povo assim, agoniado, precisa aprender:
Quem só anda às carreiras vai ter que voltar muitas vezes, para vencer a agonia.

Fonte : Prof. PÓVOAS, Ruy do Carmo