quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A Exposição Cavalo de Santo



A exposição Cavalo de Santo – Religiões afro-gaúchas, em exibição no Santander Cultural – Unidade Porto Alegre a partir de 27 de agosto, retrata a força das religiões africanas no sul do Brasil. São 190 fotografias de autoria de Mirian Fichtner, que abordam rituais, festas, manifestações de fé, assim como as vertentes das religiões africanas: batuque, umbanda e linha cruzada.O mote da mostra é o resultado do censo de 2000 realizado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que constata que o Rio Grande do Sul é proporcionalmente a região do País que mais absorveu as religiões afros, – cerca de 1,6% da população – muito mais que estados como Rio de Janeiro e Bahia. Curiosa com a informação, a fotógrafa se dedicou a uma extensa pesquisa sobre o assunto.A exposição, composta por 40 fotografias emolduradas (75cm x 1,2m) e 150 fotos digitais, projetadas em monitores de TV, pode ser vista no Átrio do Santander Cultural até dia 19 de setembro, com entrada franca.Para a superintendente do Santander Cultural, Liliana Magalhães, Cavalo de Santo revela uma faceta religiosa que marca profundamente o povo gaúcho. "Foi principalmente por esta grande força cultural que abraçamos a exposição de Mirian Fichtner. Além disso, seu trabalho expressa uma linguagem estética fotográfica primorosa. Esta é uma das grandes realizações do Santander Cultural em 2008", afirma.Mirian nasceu em Porto Alegre e trabalhou em algumas das principais publicações do País, como Zero Hora, O Globo, O Dia, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, Veja, Exame, Época e IstoÉ, entre outras. Conquistou oito prêmios nacionais e internacionais, realizou várias exposições e tem suas fotos publicadas em livros. Cavalo de Santo teve apoio do jornalista Carlos Caramez e do antropólogo Ari Pedro Oro, um dos maiores especialistas em religiões do País. O projeto prevê ainda o lançamento de um livro e um DVD.

Serviço:
Exposição: Cavalo de Santo – Religiões afro-gaúchas
Data: de 27 de agosto a 19 de setembro
ENTRADA FRANCA
Local: Átrio do Santander Cultural – Unidade Porto Alegre
Rua Sete de Setembro, 1028 – Porto Alegre, RS

Informações gentilmente cedidas por ERICK WOLFF

domingo, 24 de agosto de 2008

Governo Religioso?



Governo Religioso
Com o advento da compra do Asè, pagando uma pequena fortuna se tornou comum o dito governo, indivíduos alegam que seu Orixá pediu governo ou que já ganhou ($$$) o axé de governo do Pai ou Mãe de Santo, bem mas há mais coisas por de trás destas justificativas, o governo para esses indivíduos significa, ter o absoluto controle sobre tudo que acontece em seu Ile e seus atos como Religioso. Mas por que acontece isso? Por que ninguém mais quer dar satisfação de seus atos a ninguém, todos querem ser Pais e Mães de santo e ter o seu Governo e com isso autonomia total em seu Ile, ninguém quer ser filho de santo e passar por anos de aprendizado como deveria ser, antes de se aprontar e ter o titulo de Babablorixá ou Yalorixá, muitos esquecem que ninguém se faz sozinho e que ser um sacerdote significa aprendizado constante, aprendizado esse que o Baba ou Yia devem passar, o individuo que não passou pelo tempo de aprendizado, certamente não tem o devido conhecimento e ai estão... muitos Babas e Yias sem o preparo necessário e fica muito claro isso pois estão sempre na “balança” hora se destacam, hora estão na lama, a falta da bagagem Religiosa, de tempo de aprendizado no Ile do Baba ou Yia , traça um caminho em suas vidas que de forma alguma é linear, muitos desses compraram seu Asé em aprontes Express. Em minha opinião em quanto Pai ou Mãe de santo estão vivos não se tem governo absoluto, antigamente era diferente, só obtinha a liberdade parcial quem passou anos ao lado do seu Baba no aprendizado religioso e realmente se destacou como Religioso pela sua fé, dedicação, merecimento e seu conhecimento adquirido e mesmo assim o Baba acompanhava as obrigações desse filho, o filho ia fazer uma obrigação para seu Orixá e o seu Baba estava ao lado, as vezes o Filho já tinha a liberdade de se borir sozinho, mas sob os olhos de seu baba, portanto não tinha autonomia total, tinha sim que prestar contas ao seu Baba de seus atos e hoje, esta servindo mais para o Filho dispensar o Pai de santo e não ter que dar satisfação a ninguém de seus atos, acredito que assim perde-se a noção de família religiosa, que é a base da Religião dos Orixás. Pai ou Mãe de santo são para toda vida, e não somente enquanto vc esta com sua obrigação no Ilê deles, por isso que não vemos mais hoje a figura de uma pessoa antiga nos batuques, conhecemos os Pais e Mãe de santo de hoje só que ninguém sabe de onde eles vem, qual a raiz deles, em que bacia foram feitos, enfim e nem eles fazem questão de dizer , pois todos nós sabemos em que circunstancias, eles foram feitos, por isso sempre desconfio do tal governo. A importância da figura do Pai ou Mãe de santo no dia a dia e na porta do Peji nos dias de obrigações, caiu em desuso e com isso se criou o cargo de Padrinho da casa e renegam o seu asé de feitura. A importância da ancestralidade é fundamental, claro que à alguns casos de desacertos entre filhos e Pais, filhos esses que foram bem feitos e que tem bagagem Religiosa e mesmos afastados do Asé de origem continuam rezando sobre a mesma cartilha que aprenderam, não podemos generalizar de forma alguma, mas mesmo assim não se pode renegar as raízes Religiosas. Governo só se obtém após a morte do Baba ou Yia e se tiver orumalé completo com os devidos Axés de Obè e Ifa e se o individuo é cavalo de santo o Axé de fala.
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Texto de Pai Léo de Oxalá
Os textos postados aqui são baseados em minha vivencia religiosa e em pesquisas dentro do batuque, e descrevem apenas minha opinião, não querendo passar como verdade absoluta.

Provérbio africano:
"Quando não souberes para onde ir, olha para trás e saiba pelo menos de onde vens."

"o sangue e a ancestralidade não há como negar, não há como recuar, não há como recusar , nos eleva e identifica"

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O Mensageiro e o Destino


O Mensageiro e o Destino segundo a tradição Fon (Djedje).

Na tradição Fon o aspecto mais importante na vida é o destino, todos querem ter um bom destino mas para isso depende de nossas atitudes pois o destino pode ser cruel com alguns indivíduos, à lei do merecimento, de fazer por merecer e cumprir com suas obrigações com os seus deuses Voduns é primordial para um bom destino, destino esse ditado pelo criador Mawu-Lisa e desvendado pelo Vodun Fá o Vodun da adivinhação ou destino, destino esse misterioso e temível por muitos. Sendo assim Vondun Fá teria um papel quase que principal na vida dos indivíduos, a sorte lançada para sempre, mas essa palavra final não fica por conta dele, pois temos o mensageiro àquele que traduz a palavra do criador Mawu Lisa que é o Vodun Legbá filho do criador, que diferente dos demais Voduns do panteão Fon, não possui um domínio fixo, ele esta em todo lugar e em tudo, divindade do imprevisível, do inatribuível ele esta além do bem e do mal concebidos pela sociedade. Nêle, o bem e o mal se entrelaçam. Na organização do Panteão Vodun cada Vodun tem um domínio Fixo herdado pelo criador Mawu-Lisa, já Legba não possui um domínio fixo, mas mesmo assim não perde sua importância no panteão, pois o que poderia parecer que o Vodun legba é desprovido de um domínio, o torna o vodun da mobilidade, sendo o único que tem acesso a todos os domínios, pois é o mensageiro da palavra do criado Mawu Lisa, interlocutor entre os Voduns e o criador e interlocutor entre os voduns e os Homens, fazendo dele o personagem intermediário por excelência. Legba tem o papel de guardião do patrimônio divino, que lhe foi atribuído por por Mawu-Lisa, patrimônio esse que são os domínios que cada um dos voduns herdou do criador, portanto Legba não herdou nenhum desses domínios mas sim a guarda de todos os domínios para que haja a mobilidade e não seja um universo de caráter imutável, portanto mesmo sendo O Vodun Fá o vodun da adivinhação, representado como a palavra do criador (Mawu-Lissa), tudo depende de Legbá e o destino se torna manipulável através dele, nada poderá acontecer sem a intervenção de Legbá, de intérprete e mensageiro nenhuma comunicação entre os homens e Voduns e Voduns e o Criador pode acontecer sem a sua intermediação, ele da a mobilidade ao todo, nele esta a ordem e a desordem das coisas é o deus coletivo. Devido a esse seu poder quase que absoluto sobre a vida e a morte, sucesso e fracasso, riqueza e miséria, Legba é o mais temido e respeitado do Panteão Fon e o mais importante para o povo Fon.

Pai Léo de Oxalá

Bibliografias:

Nas Pegadas dos Voduns – Reginaldo Prandi
Orixás, Deuses Yorubas na África e no Novo Mundo – Pierre Fatumbi Verger
Legba e a dinâmica do panteão Vodun no Daome – Honorat
As Encruzilhadas: Legba & Ghede -The Loa of Vodun A Loa de Vodun – Charly Barbera
Wikipédia– Vodun Legbà
Vodun, o fenômeno em Benin – Barthéleny Zinzindohoue

sábado, 16 de agosto de 2008

Palestra com Prof. Norton
















Egbé Òrun Àiyé,
realizou palestra com o Antropólogo Norton F.Corrêa, onde tivemos a participação de vários religiosos e simpatizantes das Religiões de matriz Africana, realizada aqui no Sul.

Pai Léo de Oxalá
Coordenador de projetos do Egbé Òrun Àiyé -
Sociedade Afro-Brasileira para Estudos Teológicos e Filosóficos das Culturas Negras/RS.

E-mail do Egbe:
egbeorunaiye@yahoo.com.br

Blog do Egbe:
http://egbeorunaiye.blogspot.com/





sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O SEGREDO DE OXUM



O nascimento de um rio não acontece quando a água brota do solo e segue pela superfície da terra. Antes disso, uma seqüência de fatos desencadearam e influenciaram esse processo. Existe por traz do nascimento de um rio um enorme fundamento. Primeiro Olorum através do Sol aquece a água dos lagos e oceanos. Oxumarê com seu arco-Íris, leva a água em forma de vapor para as nuvens que ficam carregadas. Xangô anuncia com seu trovão, que Iansã está juntando ás nuvens com o vento mágico que surge quando ela balança suas saias. Quando as nuvens estão todas arrumadas, Xangô lança o Edun-Ará (pedra de raio) sobre a terra avisando a Odudúa que prepare seu ventre, pois a chuva irá cair. Ossãe pendura suas cabaças em Iroko para conter o líquido maravilhoso da vida. O momento sublime acontece. Numa sintonia perfeita de toda a natureza, a chuva cai, trazendo consigo toda força do céu e alimentando toda a terra. Odudúa absorve todo o líquido e cria um enorme lago no interior da terra, seu ventre. Quando a água acumulada se enche de força mineral (axé), Odudúa abre seu ventre e da vida à majestosa Oxum, que brotará do solo e deslizará sobre seu leito levando vida por toda a superfície da terra. Mais a frente água se acumulará de novo e tudo começará novamente. Assim como a vida de Oxum tem o seu segredo, nós negros e negras também temos o nosso. A nossa história não começa em 1500 com a chegada dos portugueses no Brasil. Antes disso, uma seqüência de fatos marcaram e até hoje influenciam nossas vidas. Existe por traz do aparecimento do povo negro no Brasil um enorme fundamento. Não somos descendentes de escravos, como dizem os livros escolares. Somos descendentes de civilizações africanas, de reinados fortes e poderosos. Somos descendentes de reis, rainhas, príncipes e princesas. Somos parentes de homens e mulheres que desenvolveram a escrita, a astrologia, a numerologia, às ciências e as pirâmides. Somos fruto de um povo que desenvolveu as técnicas agrícolas e que domina a medicina alternativa. Somos fruto de um povo que conhece as folhas e como despertar o poder delas, nosso povo sabe estar no Aiyê (Terra) sem perder a essência do Orum (Céu).
Matéria de Ricardo Andrade
Publicada na Edição 11 do Jornal Folha Popular

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Jeje-Nagô



O Jeje-Nagô no Rio Grande do Sul, pode ser comparado ao Jeje-Mahin do Maranhão, tanto pelo culto aos Voduns e Orixás no mesmo Terreiro “Ilê” , onde não se veste os Voduns / Orixás como acontece no Candomblé de Keto, a utilização dos aguidavis , a dança de jeje de par e tendo muita simplicidade nos templos e no ritual em si, assim como acontece no nosso batuque Jeje-Nagô. A mistura com a tradição Nagô/Yoruba não acontece apenas no Brasil, na Mãe África no antigo Daome região do povo Jeje (Fon/Ewe) alguns dos Voduns cultuados são de origem Nagô trazidos pelo povo Ewe que migrou da Região de Oyo, para o antigo Daome, trazendo consigo seus Deuses Orixás, que no antigo Daome acabaram sendo chamados pela nomenclatura Fongbe de Voduns. Portanto essa diversidade no culto vem desde a África e seria impossível desfazê-la, no Brasil quase não se tem noticias de terreiros que cultuem apenas Voduns e sendo alguns Voduns de origem Nagô, não podemos falar de pureza no Jeje do Brasil, pois não existe.

Bem no Rs o nome mais conceituado da Nação Jeje, sem duvida alguma é o Saudoso Pai João Correa de Lima (Joãozinho de Esú By) responsável pela expansão do Batuque no Uruguai e Argentina, que formou grandes nomes do batuque de ontem e de hoje e seu Asè permanece vivo e dando frutos e seu nome e fundamentos sempre mantidos em evidencia com muito orgulho, mais isso só acontece pela ótima formação que ele deu aos seus filhos. Não concordo com alguns escritores que afirmam que nunca se ouviu falar de Vodun no estado, certamente em suas pesquisas não foram em nenhum Ile de algum filho ou filha de santo de Pai João. Creio também que o erro foi nosso em utilizar a nomenclatura Orixá da tradição Nagô do dialeto Yoruba, para descrever alguns dos nossos Deuses Voduns, assim a palavra caiu no esquecimento , mas o certo que mesmo utilizando a nomenclatura Orixá, na sua essência são Voduns. E ainda me atrevo a dizer, que a base do batuque realizado hoje aqui no estado, é Jeje com tradição Nagô (Oyo e Ijesá), pois em muitos Iles que não se dizem de Jeje , executam cantos aos voduns Legba, Sapakta, Sogbo, Lissa entre outros e também fazem feituras a esses voduns, o próprio culto a Ogun que no RS sua feitura é em vulto de Cobra em ferro, lembra muito o Culto ao vodun Dan/Bessen , pois também é um vulto de uma cobra e não existindo na Região Nagô da África e no Candomblé a feitura de Ogun em vulto de Cobra, fica clara a existência da diversidade, O agê, o agogô também de tradição Jeje, estam presentes na maioria dos Iles de Batuque. Lembramos que é impossível se falar em pureza de nação no batuque. E essa diversidade é decorrente da própria diversidade religiosa e cultural do continente Africano.
Texto de Pai Léo de Oxalá